«25 de abril, sempre!» dizemos sempre que abril chega, e é por isso que abril só é às vezes, se é que chega a ser. Celebrar as portas que abril abriu é mais do que celebrar a liberdade, é reclamá-la. 44 anos depois do início da revolução, 43 anos depois da sua derrota, o povo vê-se esquecido nas suas aldeias, também esmagado e expulso dos centros das suas cidades em nome do lucro, e violentado e discriminado por instituições racistas e inimigas da classe trabalhadora. Abril fez-se para que caíssem os muros, mas imigrantes continuam privados de direitos básicos e explorados, ao lado dos precários portugueses sem segurança e poder de denúncia, devido em parte aos partidos e sindicatos que respiram lógicas de concertação entre os “parceiros” (anti) “sociais”. As nossas florestas ardem por descuido (ou por planos neoliberais de “eucaliptização”?) e por interesse de terceiros, projetos de exploração de petróleo e minérios são feitos sem qualquer consenso das comunidades que ali residem. A violência machista vai bem de saúde, protegida pela justiça que a justifica no trabalho, na rua, no lar e o ensino, cooptado por lógicas mercantilistas, reproduz a estrutura da sociedade de classes na sala de aula e nega a entrada no ensino universitário a quem não a possa pagar. Hoje celebramos a nossa revolução, mas os media e a esquerda, da institucional à não-institucional, silenciam a revolução curda em Rojava (Síria), prova viva de que as revoluções não pertencem ao passado. Silenciam também os ataques genocidas que o governo turco leva a cabo nesta região, no cantão de Afrin. Não esqueçamos que a Turquia compra armas na Europa, recebe financiamentos da União Europeia e possui o segundo maior exército da NATO. Apesar da tímida condenação destes ataques no parlamento, a cumplicidade de Portugal não pode ser ignorada. É em dias como este que os representantes políticos atingem a sua mais sublime hipocrisia, “amnésicos” dos seus ataques contra a classe trabalhadora, da impunidade dos “vampiros”, da repressão contra as e os pobres e insurretos, e da traição a não só tudo o que Abril representa, mas à revolução em si. Todos eles afinal de contas são apenas a vida do projeto político da contrarrevolução de 25 de Novembro de 1975. Fingem celebrar o fim do fascismo e a liberdade do povo, como se a liberdade numa sociedade com estruturas de opressão e exploração não fosse apenas um eufemismo para privilégio, como se houvesse espaço para a burguesia e para a classe política dentro do povo, como se não fossem filhos e aliados da contrarrevolução. Festejar essa “liberdade” é transformar Abril num cortejo de flores fúnebres. Esse não é o nosso Abril. Saímos à rua porque Abril é Processo Revolucionário em Curso, é luta, e é quotidiana: contra os fascismos disfarçados, democracias infectas e opressão em todas as esferas, que só ao povo, às e aos de baixo, pertence o real interesse de destruir. Saímos à rua porque apesar da vitória da contrarrevolução, Abril não acabou, e como diria Buenaventura Durruti, continuamos a levar um mundo novo nos nossos corações, que cresce a cada instante, e que, sem medo de ruínas, faremos de tudo para voltar a tentar construí-lo.
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RELLA Resistência Estudantil Luta e Liberdade é uma organização de tendência estudantil de caráter popular, classista, combativo, horizontal e autônomo, pela construção de um movimento estudantil autogestionário que responda às necessidades de luta e resistência contra os ataques os quais as e os estudantes têm sido alvo. Histórico
Janeiro 2021
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