Desde a introdução do sistema de propinas em 1992, o movimento estudantil do ensino universitário e politécnico em Portugal tem vindo a enfraquecer progressivamente. Em 2006, a implementação do Processo de Bolonha acelera essa rota, retirando qualidade ao Ensino e tempo às e aos estudantes. Em 2007, é aprovado o Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES), e seguindo-se a passagem a fundação da Universidade do Porto, Universidade de Aveiro, e ISCTE em 2009. Em 2015 há uma nova ronda de precarização e privatização com a passagem a fundação da Universidade do Minho, que continua com o anúncio de desejo de passagem a fundação da Universidade Nova de Lisboa e da Universidade de Coimbra em 2016. Só o movimento estudantil da UC conseguiu atrasar a vontade da respectiva reitoria, tendo a UNL passado a fundação em Janeiro de 2017.
No meio de tantas derrotas, dizer que há uma crise de direção é pouco; mais do que isso, há uma crise de organização. Em Lisboa, reinam a desorganização estudantil, os movimentos isolados, muitos deles apenas fantoches que escondem as cores do legalismo e do institucionalismo de uma esquerda que renunciou à classe e à luta, mesmo que as continuem a carregar como insígnias. O movimento Brigada Universitária em Luta (BUL) da FCSH, acabou derrotado por conflitos internos entre juventudes partidárias, que devido à ausência de estrutura formalizada, e um funcionamento mono-assembleário, catapultaram uma disputa que deveria ter sido saudável e transparente para a desconfiança total entre os vários grupos e redes informais. Em Coimbra, a existência de instâncias de base fortes e autónomas, as Repúblicas, fez com que o aspeto mono-assembleário da Plataforma Anti-Fundação e a sua falta de estrutura formal não afetassem o sucesso da primeira fase da luta. Porém, esta rede organizada só se estende até às e aos estudantes que fazem parte das Repúblicas, o que limita a força social do movimento. Para atingir o seu mais alto potencial, as e os estudantes precisam de instâncias de base próximas de si, onde possam estar envolvidas com elas quase quotidianamente, onde a organização não seja um esforço mas um acrescento à dinâmica que já existe por se partilhar uma vivência em espaços comuns. Podem ser portanto numa primeira instância organizadas à volta da unidade-faculdade mas idealmente chegarem até à unidade-curso ou turma, sempre que facilitar a participação das e dos vários estudantes numa organização maior. Estruturar é não só democratizar o acesso à organização, mas também solidificá-la, dar-lhe esperança, força e futuro. Tanto em Coimbra como em Lisboa a única organização que está a ousar dar um passo em frente para a resolução desta crise de organização é o Sindicato de Estudantes. Para além disso, o Sindicato tem também defendido a aproximação da luta estudantil com a luta das e dos trabalhadores ativos e de outros grupos dominados pelo capitalismo e pelo Estado, como as mulheres, as pessoas não-brancas, e as pessoas LGBTQIA+. O Núcleo Universitário e Politécnico da Resistência Estudantil reconhece assim a importância do fortalecimento do Sindicato de Estudantes e apela a todas e todos os estudantes comprometidos com a Luta e com a Liberdade à adesão e participação ativa no mesmo. Acaba de ser lançado também em Lisboa o movimento Cancela a Propina, uma oportunidade para começar a construção de uma campanha que se atreva a ameaçar realmente as propinas, mecanismo de exclusão e elitização do Ensino Universitário e Politécnico que barra tantas e tantos de estudar. Que finalmente sejam postas de parte as ilusões do “Rumo à propina zero” da Juventude Socialista, que por este andar nunca irá chegar lá, e também os fóruns e encontros de simulação diplomática dos dirigentes associativos onde tanto se fala mas nada acontece. Acreditamos que devemos olhar para os movimentos passados criticamente e perceber que entender os sucessos, mas também os fracassos é a chave para aprender no presente e melhorar o amanhã. Consideramos, por isso, que sem um foco na construção de instâncias de base onde elas não existem, a captura do movimento pelas elites informais e pelas burocracias partidárias é um risco sempre iminente e crescente. Avante por um Movimento Estudantil Classista e Combativo! Romper com a burocracia dirigente! Construir e Fortalecer as Instâncias de Base!
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RELLA Resistência Estudantil Luta e Liberdade é uma organização de tendência estudantil de caráter popular, classista, combativo, horizontal e autônomo, pela construção de um movimento estudantil autogestionário que responda às necessidades de luta e resistência contra os ataques os quais as e os estudantes têm sido alvo. Histórico
Janeiro 2021
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